Por Celeste (Osairanle)
Quando criança tive a oportunidade de conhecer o Ògún mais garboso que já vi na vida. De nação angola, ele é Nkossi le. Seu charme e classe conduzem muitos fies a sua humilde casa no dia 13 de junho, pessoas que como eu, se emocionam ao vê-lo dançar, e exibir em seus gestos sua majestosa história. Se a “matéria” dele fosse bailarina, estaria explicado sua leveza e cadência. Mas ela é apenas uma Mãe de Santo ou Mameto de Nkissi, que desde criança incorpora este Orisa/Nkissi. E pelo que me contaram, ele sempre foi assim, belo.
Desejei que aquelas imagens que tanto me emocionava, não se limitassem ao espaço físico daquele Ile Ase, achava pouco, muito pouco para aquela divindade. Queria sair por ai mostrando Nkossi para todo mundo, para os que têm fé em Orisa. Fiquei adulta, e a cada vez que o via, eu pensava: Como mostrar Nkossi para o mundo? Lendas de Orisa são tantas, destorcidas ou incompreendidas, tudo se fala hoje sobre Orisa, até o que não se deve falar. E com muito cuidado, eu procurei entender, por que chegaria a um terreiro tão conservador câmeras de televisão, para uma reportagem a ser exibida numa rede de tv que tem prestígio mundial? Justo na feijoada de Ogum, exatamente quando estava ali, em visita à minha casa, o meu adorado Nkossi le!
O povo de candomblé é cismado, “como é que mostra a mãe de santo na tv recebendo o Orisa!” O que perdeu Nkossi numa casa Nagô? Ainda aparecendo na tv? E foram muitas as críticas, que certamente se tornarão lenda.
Aprendi, no próprio Axé, que barracão de festa é público, se é público, pode ser visto por todos. E diga-se de passagem, a festa no candomblé é uma demonstração mágica de pura beleza. Aprendi também, que cultuamos elementos da natureza, e se Ògún é metal, Ògún é possível através da tv. Então, que mal há em Ògún/Nkossi aparecer na televisão? Hoje se fotografa, se filma, e se fala mais do que se deve de Orisa. E se antes se falou menos, não se filmou ou não se fotografou, foi porque Ògún ainda não havia nos mostrado o progresso. E lá estava Nkossi, como sempre desejei, pro mundo! Visto como uma revelação fantástica, em horário nobre, por muita, muita gente.
Texto do Livro Ogun o meu Orisa - Por Esu Bambalatiri
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