Casamentos - Frutas Frescas no Terreiro São Bento
Lugana Olaia
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Altar do Templo de Orisanlá - Casamento da Iyalase Celeste Osairanle e Samuel Azevedo - Terreiro São Bento 08.01.2012 |
Vivemos numa sociedade que ainda casa, mas que se separa com a mesma velocidade. Poucos acreditam na necessidade do estar junto de maneira definitiva, com um documento dizendo isso para a sociedade. Criaram-se novas formas de união. Isso é bom, principalmente, porque as mulheres não estão mais obrigadas a aceitar um casamento eterno, infeliz e sem amor. Conquistaram sua independência sentimental!
O casamento ainda traz aquele ar de tradição, muitas vezes aparece para sacrificar os sonhos, os planos da vida de solteiro. Mas não é assim para todos. Há quem enxergue a possibilidade de caminhar ao lado de alguém, dividindo o peso, multiplicando as alegrias e crescendo juntos, colocando em prática novos projetos que vão unir a vontade dos dois.
Quando um casal decide oficializar este desejo de viver em matrimônio, eis que surge a religião para abençoar este aliança. É um vínculo intenso, que envolve uma troca de energias e forças profundas. Foi o que eu vi e senti ao estar presente na cerimônia realizada por meu pai Oxaguiã, sobre as cabeças de Celeste e Samuel.
Ainda que nenhuma palavra fosse dita, era possível se arrepiar com o batuque dos atabaques, se entorpecer com o aroma das folhas sob nossos pés, e vibrar com o tilintar das moedas que foram atiradas como sinal do compromisso de todos na manutenção daquele sentimento de paz e harmonia entre os noivos.
Eles escolheram caminhar juntos daqui pra frente, e cada orixá através de seu filho, lhes abençoou. Enrolados na mesma manta eles recolhiam o dinheiro, e aquela imagem foi perfeita para representar sua decisão de cumprir mais uma nova tarefa juntos.
Os noivos se emocionaram, muitos deixaram as lágrimas caírem. Foi uma celebração de luz, de frescor e encantamento. Talvez aquele tenha sido o instante em que um inconsciente coletivo tomou conta, e foi possível pensar nos obstáculos que um casal enfrenta, no quanto foi preciso investir para chegar até ali e como eles precisam contar com o apoio dos familiares, amigos e anjos da guarda para alcançarem o futuro que os espera.
No casamento você conquista outro ser que passa a existir de uma maneira diferente na sua vida, ocupa a posição de companheiro, parceiro, cúmplice, sócio. Ele vai comprar sua briga, se comprometer com seus problemas e de certo trará toda a bagagem dele no pacote. Coragem também é a palavra de ordem!
Na água que fazia brilhar os olhos de uma noiva tensa com a organização da cerimônia e um noivo totalmente entregue a um ritual que não lhe era familiar, era clara a entrega de ambos. A confiança que se torna costumeira entre os casais é a celebração de uma amizade muito forte e verdadeira.
Naquele dia até água do céu caiu, trazendo a mensagem de que a chuva é renovação, é alma limpa. Importante respeitar as diferenças, a forma de amar, de cuidar, ser, viver e compartilhar. Que bons ventos conduzam este amor pelo maior tempo permitido por nossos guias ancestrais.
Casamento no Terreiro São Bento
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A Ebomi Emanuela Iyesire e o Ogan Tiago Jilemin recebem a benção de Osaguiã em 29/01/2012 |
Na Irmandade Terreiro São Bento o casamento é a benção do Orixá para a formação da família material, a união de um homem e uma mulher, comprometidos com a continuidade da religião através da família. Pelo menos um deles deve ter alguma relação direta com o Terreiro. O casamento acontece durante três dias; em um deles são feitos grandes preceitos, no outro uma festa para a
Iyabá, e em outro determinado pelo Orísá, os noivos recebem a benção em público com rituais simbólicos trazidos de uma das tribos de África por um grande Sacerdote do Culto de Ifá. Ao final da cerimônia religiosa o casal é conduzido ao salão de festas para a troca das alianças em respeito aos costumes sociais brasileiro e dividem o bolo com os irmãos e convidados. Como nossa comunidade é registrada legalmente, os noivos também assinam o livro próprio de registro de casamento. No Terreiro São Bento já realizamos quatro casamentos, o primeiro foi no ano de 1992, outro em 2002 e este ano, em janeiro, casaram-se a
Ìyálásé Celeste (TSB) com Samuel Azevedo dia 8, e a Ebomi Emanuela
Iyesire (TSB) com o Ògá Tiago Jilemin no dia 29.
Texto de Alafiona nº12 - Coluna Ara ni Asé, pag 8/9