Refletindo sobre desperdício.
Celeste Osairanle
Na sociedade consumista em que vivemos, o desperdício é um hábito. Um mau hábito. Nosso lixo vem se tornando cada vez mais rico, encontramos desde a raspa do resto da comidinha até equipamentos eletrônicos em condições de uso. É um absurdo o que acontece com os equipamentos de informática, aparelhos que poderiam durar anos se bem conservados, mas que parecem ser fabricados com o propósito de serem descartados de acordo com o tempo de garantia proposto pela fábrica. São tantas pecinhas miúdas que custam uma fortuna, e na hora de concertar e reaproveitar fica tão caro que o jeito é comprar outro. E o quebrado? Vai para o lixo!
E as embalagens caríssimas de perfume? Desde o plástico do lacre até a ultima gota do perfume, e aqueles frascos maravilhosos que são atração fatal para o bolso? E as lâminas de barbear com aquele cabinho lindo! Escovas de dente que parecem objetos de outro mundo, embalagens de maquilagens, e tantos outros utensílios que são descartados todos os dias mundo afora? Não se trata de desperdício? Sim. E uma passiva e cotidiana destruição do planeta. Alguns produtos têm a possibilidade de serem reciclados e outros que de forma alguma poderão ser reutilizados, superlotam os lixões das grandes cidades. A maioria das empresas que geram os produtos não recicláveis, pouco investem na solução para seus descartes. Tem uma marca de creme dental, que além de utilizar uma embalagem metálica para acondicionar o creme, ainda tem sua caixa toda de plástico, que não serve para nada em nossa casa.
Quando se trata de alimentos a coisa fica pior, de um lado toneladas são jogadas ao lixo das residências, dos restaurantes e das fábricas, do outro, milhares de pessoas morrendo de fome. E nem pense em fazer uma quentinha pra dar na porta. Se o morador de rua passar mal com a comida, você poderá ter sérios transtornos. Soluções? Estamos em busca delas, mais seria bastante evitarmos o consumo desmedido de produtos desnecessários, com embalagens que brilham aos olhos, custam no orçamento e na natureza. Se não houver consumidor, não haverá produto. E assim as empresas terão que repensar sua produção.
Oferenda não é desperdício!
É na alimentação que se concentra o ponto crítico de nossa reflexão, a situação do Candomblé, religião que historicamente alimenta pessoas com o propósito apenas espirito energético e que, contraditoriamente, “joga” comida fora!
Ouvi há algum tempo uma atriz na televisão dizer-se indignada com “esse pessoal que joga galinha e comida nas encruzilhadas. Deviam ter vergonha na cara e alimentar quem tem fome!”. E então, o que dizer disso?
Oferenda a Sàngó na pedra dentro da mata - TSB 2012 |
O jovem Omonisa aos seis meses também come o alimento sagrado. |
Apesar dos conceitos cruéis de alguns seguimentos da sociedade Brasileira, da internet, televisão e rádio que falam qualquer coisa baseados em equívocos, e que não sabemos quais os critérios usados para as informações,o Candomblé se mantém resistente buscando apoio nas leis que quase nunca nos contemplam. Tem sido cada dia mais difícil para as Ìyálórísá manter suas casas de acordo com os ensinamentos recebidos de seus ancestrais.
Oferenda Feijoada de Ògún - Alimento para todos que chegarem no Ile Ase e o excedente e distribuído na comunidade vizinha em quentinhas. |
Então, será que você nunca viu gente comendo nas encruzilhadas ou pessoas catando comida no lixo? Você não joga comida fora? Qual a sua responsabilidade na fome mundial? O povo de Àse não entende oferenda como desperdício, nós alimentamos quem tem fome de toda forma que nos é possível. Para nós, espírito também come.
Texto de Informativo Alafiona nº 12 - coluna Bawijo pag 7/8
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